APRESENTAÇÃO

O contexto brasileiro desde o ano de 2015 até presente momento apresentou um conjunto de modificações políticas que têm produzido múltiplos impactos sociais, de penalização, sobretudo para as camadas mais vulneráveis da população, com repercussões para a educação básica e superior. Estamos nos referindo particularmente ao golpe patrocinado pelas forças conservadoras que culminou na saída da Presidenta eleita Dilma Rousseff do Palácio do Planalto, a assunção de Michel Temer e posteriormente a eleição de Jair Bolsonaro em 2018.

 

Desde então, em âmbito social e educacional, as ações encaminhadas por este núcleo gestor têm produzido agressões, exclusões, violências de diferentes formas, pessoais e institucionais a tudo que cheira povo, diferença e liberdade, atingindo em cheio as etnias brasileiras.

 

A partir de um olhar crítico para estas estruturas e em atenção às premissas estabelecidas pela LDB nº 9.394/1996, de que a Educação se inspira nas práticas sociais, é que propomos nesta XII Edição do Seminário de Educação (SED) o tema “Resistência Originária: Povos Indígenas e Paulo Freire”, enquanto possibilidade de leituras e interpretações da complexidade do momento em que vivemos.

 

Teremos, pela primeira vez, um SED Indígena, pois acontecerá entre os dias 23 a 25 de outubro de 2019, em plena etapa de estudos do curso de Licenciatura em Educação Básica Intercultural que completa uma década de existência e re-existência produzida diariamente em busca de justiça social e de assegurar o direito à educação diferenciada, com a perspectiva de que é possível construir um mundo onde caiba todos e todas e na perspectiva freireana “outro mundo é possível”.

 

 Em companhia dos estudantes indígenas Aikanã, Amondawa, Arara, Aruak, Canoé, Cao Oro Waje, Cabixi, Cinta Larga, Cujubim, Gavião, Jabuti, Karitiana, Karipuna, Kaxarari, Macurap, Mamaindê, Migueleno, Negarotê, Oro At, Oro Eo, Oro Mon, Oro Nao’, Oro Waram, Oro Waram Xijein, Oro Win, Paiter, Puruborá, Sabanê, Sakurabiat, Tupari, Uru Eu Wau Wau, Wajuru, Warazukwe e Zoró e seus representantes – movimento social, lideranças, sabedores e sabedoras, mulheres, jovens, homens e crianças, os Djala, Tarupá, Yara, os “não indígenas”, em mais um esforço pedagógico de caráter intercultural, ampliaremos nossas concepções de currículo sobre Amazônia, Educação Crítica, Diferenças Culturais, Diálogos de Saberes, Decolonialidade e Bem Viver. Temos muito para falar, mas, sobretudo, temos muito para ouvir e aprender.

 

Uma temporalidade de “balbúrdias” solidárias, intelectuais em sintonia com as sabedorias ancestrais, sem medo dos entre-lugares, do pensamento fronteiriço, de produção de “inéditos viáveis”, um exercício coletivo de reafirmação da re-existência dos Povos Originários expresso em diferentes línguas e manifestações representadas por múltiplas linguagens – gestos, pinturas, músicas, danças, vestes, artesanatos, audiovisuais, escritos de autoria indígena – monografias, dissertações, produção de material didático, artigos, livros e capítulos de livros.

 

Nesta XII Edição do SED, no Ano Internacional das Línguas Indígenas, reafirmamos nossa luta e esforços coletivos pela democracia, humanização, justiça social e a crítica ao projeto colonial de destruição dos povos, principalmente das nações indígenas.

 

Reiteramos a importância dos enfrentamentos a todas as violências. As desigualdades sociais resultam sim da luta de classes, classes atravessadas por raça, etnia, gênero, orientação sexual, religião e geração. Denunciamos as violações permanentes às Terras Indígenas no Brasil, principalmente em Rondônia, abraçamos os territórios Uru Eu Wau Wau e Karipuna, que desde o inicio do ano não encontra paz em sua casa, devido à ação diuturna de invasores, madeireiros e grileiros que se sentem autorizados para saquear e grilar o patrimônio indígena.

 

Repudiamos as violências provocadas pelo Estado brasileiro e seus agentes, mas também as violências que são reproduzidas em âmbito doméstico e familiar principalmente contra as mulheres e crianças.

 

A memória e a oralidade denunciam os danos irreparáveis provocados pelo saque dos territórios tradicionais para implantar a colonização em Rondônia que repercute em suas perversas atualizações, a colonialidade ... Com os Paiter Suruí em seus 50 anos de contato oficial – com o Estado brasileiro e a sociedade civil – cantamos: “Koi txangaré, koi txangaré, xiripába mãi txangaré, xameapab mãi txangaré...”.

 

 

Josélia Gomes Neves

Quesler Fagundes Camargos

 

 

 

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ISSN: 1983-5124

Anais do XII Seminário de Educação:

Resistência Originária: Povos Indígenas e Paulo Freire

Ji-Paraná: Universidade Federal de Rondônia, 2020

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